A ‘busca dos meios’ é um dos elementos da espiritualidade da Comunidade Canção Nova. Refere-se a uma postura ativa diante da necessidade de estar na presença de Deus, um esforço para valorizar a vida de oração em meio às atividades do dia a dia. Os meios correspondem às oportunidades de encontro com Deus, verdadeiro kairós, momentos de graça e de comunhão em que a vocação se fortalece. 

Ao longo dos anos, a Comunidade foi colhendo da experiência da Igreja formas muito simples e concretas de viver esses momentos de encontro com Deus. Dentre eles, destacam-se: o estudo e meditação da Palavra de Deus, a oração pessoal, a oração comunitária carismática, a espiritualidade mariana, a meditação da paixão do Senhor e as práticas penitenciais. Esses meios são alimentos necessários para se manter numa contínua e crescente vida de oração. 

O amor à Palavra de Deus é uma realidade fundante na Comunidade Canção Nova. Nos inícios, Padre Jonas Abib despertou nos jovens que participavam dos primeiros encontros de formação e catequese, chamados de “Catecumenato”, um profundo amor e desejo de conhecer e viver a Palavra de Deus. Ele elaborou um método de estudo bíblico, chamado “A Bíblia foi escrita para você”, indicando um caminho de intimidade com a Palavra de Deus. 

A Sagrada Escritura é alimento imprescindível para a nossa vida espiritual. A leitura orante da Palavra de Deus vivida com simplicidade alimenta e fortalece o nosso apostolado. 

A oração pessoal é a atitude de escutar a Deus, a fim de crescer no relacionamento com Ele e em santidade. É um empenho e um compromisso pessoal. Nesta oração Deus fala ao coração de forma particular, revelando o Seu amor e a Sua vontade. Na medida em que se aprofunda nessa forma de oração, adentra-se na intimidade com Deus. Pode-se dizer que a oração é uma extensão da contemplação vivida no estudo bíblico, nos momentos de deserto e recolhimento à luz da Palavra de Deus quando diz: “Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai que está no escondido. E o teu Pai, que vê o no escondido, te dará a recompensa” (Mt 6,6)

A Comunidade Canção Nova é uma comunidade carismática e, por isso, a vivência e exercício dos dons do Espírito Santo é de salutar importância em nossa espiritualidade. 

Somos uma comunidade mariana, e reconhecemos a presença e ação de Nossa Senhora em toda a nossa história. Desde os inícios, aprendemos a invocá-la como Mãe e Mestra. Padre Jonas nos ensinou que “Maria é uma presença discreta, mas muito real em nossa vida de operários de Deus. Ela é muito presente em toda a nossa vida, em todo o nosso trabalho, presença de mãe, presença de mestra , presença de educadora. Sentimos mesmo que ela nos forma, educa, impulsiona, orienta, encaminha. Nós a sentimos muito próxima”. Rezamos o terço diariamente, como uma forma de nos relacionarmos com a Virgem Maria. 

Desde os primeiros anos é costume na Canção Nova nos colocarmos em oração às quinze horas, unindo-se a Jesus no mistério de Sua Paixão e Morte. Este é, para nós, um momento oportuno para apresentar ao Senhor os sofrimentos e angústias de toda a humanidade e suplicar a Sua Misericórdia. 

As práticas penitenciais são um convite a seguir o caminho de Cristo na renúncia de si mesmo, tomando a cruz de cada dia. Elas se fundamentam na necessidade da ascese pela qual o corpo é dominado e submetido ao senhorio do Espírito. O Catecismo da Igreja Católica ensina que “a penitência interior é uma reorientação radical de toda a vida, um regresso, uma conversão a Deus de todo o coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal, com repugnância pelas más ações cometidas. Ao mesmo tempo, implica o desejo e o propósito de mudar de vida, com a esperança da misericórdia Divina e a confiança na ajuda da sua graça” (CIC 1431).

Fiéis à tradição da Igreja, nós membros da Comunidade fazemos das sextas-feiras o nosso dia penitencial. Entre as práticas penitenciais estão as mortificações, a abstinência, as obras de caridade e piedade e o jejum, vivamente recomendado. 

Uma prática penitencial do carisma de Dom Bosco introduzida na Comunidade Canção Nova, por Padre Jonas, é o chamado ‘Retiro da Boa Morte’. Consiste num propósito de revisão de vida em que, a cada mês, o membro se dedique a ordenar o seu interior e exterior, retirando os excessos e tudo aquilo que não convém à sua consagração de vida. Padre Jonas afirmava que “o segredo para viver bem é estar preparado para bem morrer”. Por isso, todos os meses nós membros da Comunidade nos organizamos para realizar esta prática. 

A Direção Espiritual é uma fonte de crescimento e amadurecimento na vivência cristã. Ela ajuda a discernir a ação do Espírito Santo na vida de cada pessoa e sustenta o sentido de não caminhar sozinho. Ela é recomendada para todos os estados de vida e etapas formativas, sendo um auxílio oportuno para o discernimento quanto a uma decisão importante, a superação de algum vício ou pecado, bem como um confronto respeitoso, aberto e verdadeiro, a fim de evitar equívocos e escrúpulos sobre a própria caminhada de fé e a configuração a Cristo. Como membros, também buscamos esse auxílio oportuno da direção espiritual. 

Outra riqueza da Igreja é a Liturgia das Horas, também chamada de Ofício Divino, uma oração repleta de textos das Sagradas Escrituras e do Magistério da Igreja. É uma prática assumida pelos sacerdotes e diáconos transitórios e, no que diz respeito aos diáconos permanentes, seguem as orientações das Conferências Episcopais. Também os que se consagram a Deus no celibato pelo Reino dos Céus assumem de forma comprometida a oração da Liturgia das Horas. Os demais membros da Comunidade, dentro de suas possibilidades, se beneficiam deste tipo de oração. 

Não se trata de ‘obrigação’, mas de alimento necessário. É coerência de quem é de Deus e precisa cultivar um relacionamento pessoal e profundo com Aquele para quem vivemos. Não se trata de entulhar com práticas nossa vida espiritual. Será sabedoria escolher ora este, ora aquele meio e usá-lo bem, retirando dele tudo o que nos pode oferecer. Os meios estão à nossa disposição. Eles são meios e, como tais, devem ser usados. O essencial é que a partir deles, a nossa relação com Deus aconteça e se aprofunde.